Sobre novas formas de “existir”
Dizem que o primeiro passo é admitir. Já tem uns anos que eu admito. Sou viciada em passar o dedo na tela do celular. Não muito mais do que a maioria das pessoas que eu conheço. Mas muito. E mais do que eu gostaria.
Juro que há anos eu tento reduzir o uso, que passou a ser descontrolado após o puerpério (inúmeras explicações para isso, mas não é o caso de abordar aqui). Já tentei muita coisa. Até os doze passos do AA eu já adaptei. Mas o dedo segue como que tendo vida própria. Mindfulness, milagre da manhã, terapia. Essa última por saber que é um sintoma. O problema é que não é SÓ um sintoma. Não é só ocupar espaço de alguma falta. As redes sociais são projetadas para nos viciar. Elas não cobram em dinheiro pelo uso, porque cobram com a nossa atenção. Quanto tempo nosso dedo rolar lá dentro, mais dinheiro (e poder) ganham.
Pessoalmente, isso é um problema para mim. Afinal, a vida concreta, com mais potencial, acontece é fora da internet. E eu amo viver. Mas isso não é só uma questão pessoal. Socialmente, o poder que as redes sociais têm é perigoso demais. Vejam a eleição de presidentes baseadas em fake news. Vejam um bilionário comprando rede social, porque defende que não deve ter censura nenhuma (será que discursos de ódio que adoecem e matam estarão liberados?). E como eu busco ser a mudança que quero ver no mundo, controlar o meu uso das redes é importante demais.
Porém, voltando ao que estava dizendo acima, eu não conseguia. E a bola da vez era o Instagram. Não adiantava aplicativo pra bloquear, pra medir tempo, desinstalar… Nada. O que adiantou foi eu perder o acesso por 15 dias. Realmente impossibilitada de entrar, eu passei pelo detox forçado, e nossa, como foi bom. Entrei em outro estado mental, e quando voltei, não tive vontade de consumir conteúdo, de ficar rolando o feed. Fiquei foi angustiada com tanto “barulho”. Esse incômodo hoje é maior do que o FOMO (Fear Of Missing Out – medo de ficar por fora de algo). Então eu pretendo manter assim o quanto conseguir (e assumir esse compromisso público é parte do plano).
Só que tem alguns problemas aí.
Como eu já disse, redes sociais são desenhadas para viciar, e para além disso, causar outras dependências. Hoje, praticamente todo profissional precisa estar no Instagram para “existir”. Mesmo que você receba uma indicação boca-a-boca, você vai lá conhecer a pessoa através do perfil. E eu GOSTO de ser uma profissional que “existe”, que compartilha conhecimento, que faz a informações sobre os meus serviços chegar a quem precisa. Só que para existir no Instagram, ou você faz o jogo do algoritmo, ou você cai num limbo, e o trabalho que você tem de produzir o conteúdo não chega para ninguém. Por isso, tudo o que você faz tem que engajar. As pessoas precisam clicar na enquete, mandar um foguinho, comentar, curtir, compartilhar (inclusive façam isso para ajudar os criadores de conteúdo que vocês gostam – estou sendo contraditória, eu sei, mas já vai entender). Isso diz pro algoritmo que você está fazendo as pessoas ficarem lá dentro. Ou seja, quem produz conteúdo está trabalhando para a rede social.
Recebe algo em troca, que é a visibilidade. Poder expor o seu trabalho para muitas pessoas é algo importante, uma ótima oportunidade de divulgação (por isso engajar com quem vocês gostam e confiam). Explica porque nós escolhemos continuar lá. Só que essa visibilidade só acontece SE jogar o jogo do algoritmo. Sacou? Sem contar que esse jogo implica no conteúdo que querem ver reproduzidos. Nesse sistema patriarcal capitalista, sabemos que tipo de conteúdo é escolhido para ser divulgado e qual é “censurado”.
Ainda sobre o conteúdo, dentro de todo aquele barulho, de tanta coisa acontecendo, a atenção vai ficando difícil. Ninguém mais lê textão, porque logo abaixo tem um meme mais rápido de consumir. Então para engajar, os conteúdos vão ficando mais rasos. E ficam rasos também por precisar produzir MUITO pra alimentar o algoritmo. Não dá pra passar uma hora escrevendo como eu tô aqui, todo dia. E produzir conteúdo leva tempo. Eu sei MUITO sobre amamentação. Invisto demais em conhecimento. Mas para escrever um texto mais técnicos eu tenho que fazer bem completo. Tenho que buscar as fontes para referenciar. Demora. É muito difícil produzir muito e com qualidade, a não ser que se trabalhe SÓ com rede social. Ou que adoeça, que é o que está acontecendo com muita gente.
Diante de todo esse contexto, cada pessoa vai ter o seu entendimento, a sua necessidade, a sua posição. E eu? Eu preciso do meu tempo pra viver a vida concreta, que inclui inclusive estudar, para prestar serviço de excelência. Tenho um outro trabalho “fixo”. Faço esse aqui nas horas “vagas” (pausa para rir). Então nunca consegui produzir o tanto que precisava pra ter visibilidade. Faço quando quero, quando dá, mas tem sempre uma voz interior dizendo que fico para trás nessa (porque é assim que funciona o sistema). Teve uma época que lancei um serviço maravilhoso, que sem falsa modéstia mudou a história das famílias que apostaram em mim, e eu fiz o jogo do algoritmo. Produzi e postei muuuuito. Só que adoeci. Não quero mais.
Então eu estou aqui. Encontrando novas formas de “existir”. Uma delas é escrever sem a limitação dos caracteres do Instagram. E aqui na minha casa, no site, onde eu falo o que eu quiser e que está aberto para quem quiser entrar.❤️ Quero muito receber visitas! E o GNH Podcast, quem sabe não volta? Veremos.
Outra coisa é que nas redes sociais, não apenas geramos conteúdo, mas também consumimos bons conteúdos, aprendemos muito. É um outro benefício. Mas no momento que eu estou agora, os custos estão sobrepondo o benefício e eu vou escolher abrir mão deste consumo no Instagram.
Acessar conteúdos de interesse de outras formas, escolhendo ativamente qual livro vou ler, qual podcast vou ouvir… Então pretendo (oh, céus, conseguirei?) não rolar mais o feed no instagram. Se você é produtora de conteúdo, já vai desculpando a ausência lá no seu perfil. Se cuida. E me convida se estiver em outros lugares. 😉
Se você gosta do meu conteúdo, não se preocupa, não vou sumir de lá, seguirei postando, fazendo stories, porém cag@ndo pro algoritmo. Ou seja, ele não deve me entregar muito. Mas se você quiser seguir recebendo o que posto, clica no sininho ou me inclui nos favoritos. E sugiro que repense sempre o uso que faz da rede social. Tem que ser consciente. 😉
Você leu até aqui! Tô muito feliz, obrigada. A caixa de comentário é serventia da casa. 😉