DIA DOS PAIS
Nas minhas consultas pré-natal eu sempre aviso que acompanhantes são bem-vindos (nunca obrigatórios, porque o desejo da mãe é soberano) e faço questão de enfatizar a importância do papel do pai nos cuidados com o bebê. Atenção: essa participação deve ser em livre DEMANDA, ou seja, observando as NECESSIDADES da mãe e do bebê e buscando atender com RESPONSIVIDADE.
(Usarei o termo “pai”, pois é o grupo que os estudos científicos trazem, mas se enquadra também para as mães que não gestaram, ou qualquer outra parceria afetiva que a mãe tenha no pós-parto.)
Os cuidados do pai com o bebê são muito importantes para não sobrecarregar ainda mais a mãe. Mas não só isso. Dois outros fatores são também primordiais.
Primeiro que o vínculo real do pai se dará através dos cuidados básicos. O contato na troca de fraldas, no apoio à amamentação, no colocar para arrotar, fazer pele-a-pele, tudo isso faz com que o pai também produza ocitocina (1) – que na mãe já é produzida na amamentação. E a ocitocina é o hormônio do amor, do vínculo, facilitando sobremaneira a conexão com o bebê.
Também já foi estudado que pais têm um maior nível de prolactina que não-pais (2). E a “natureza” só sabe que um homem é pai se ele convive com a cria. Se o contexto dele não muda, o cérebro não vai mudar. A prolactina é o hormônio que faz querer cuidar. E também reduz a libido (porque baixa a testosterona – sim, eu amo entender a dança dos hormônios no nosso corpo). ⠀
E o aumento da prolactina no homem nesse momento faz sentido, porque a reprodução não é mais importante do que garantir a sobrevivência do bebê. Isso acaba significando também que a libido dos dois estará em níveis mais equilibrados. O que obviamente não quer dizer que é motivo para não rolar sexo, porque não somos só hormônios né?
O segundo fator é a manutenção da relação do casal. Se o pai não é ativo nos cuidados, não está participando da treta que é o puerpério, sai cedo pra trabalhar, não faz nenhuma ligação pra casa durante o dia, chega à noite, faz bilu-bilu com o bebê, segura um pouco pra mãe tomar um banho e vai dormir cedo e a noite toda porque precisa trabalhar no outro dia, ele estará vivendo um universo paralelo. Não entenderá as demandas da mãe, que estará absurdamente sobrecarregada física e emocionalmente, sem poder compartilhar com alguém que não está vivendo a mesma situação. Estará estressada, e o pai não fará ideia de porque isso está acontecendo. Sexo? Com todo o cansaço e ressentimento? Fica difícil manter uma relação se os dois estão andando em caminhos paralelos.
Então, a participação do pai nos cuidados com o bebê não é uma ajuda a ser dada à mãe. É um papel que lhe cabe, lhe beneficia diretamente, a à toda a família.
Referências:
(1) Feldman R. Oxytocin and social affiliation in humans. Horm Behav. 2012;61(3):380‐391
(2) Gettler LT, McDade TW, Feranil AB, Kuzawa CW. 2012. Prolactin, fatherhood,a nd reproductive behavior in human males. American Journal of Physical Anthropology 148: 362-370.