Como tratar mastite

“Acho que estou com mastite!” 


Ouço sempre essa frase, e muitas vezes sinto como se viesse com um certo alívio: “agora que é uma questão médica, eu vou poder tomar um remédio e tratar”. Só que não é bem assim. Chega a ser desesperador, eu sei. Eu já estive nesse lugar de sentir muita dor na amamentação. De torcer para minha filha não acordar antes de eu me recuperar da última mamada. Mas se tem uma coisa que eu descobri é que não existe fórmula mágica na resolução dos problemas de amamentação. A prevenção é sempre melhor. Mas depois do problema instalado, precisamos encarar o tratamento e resolver. Vamos agora ver como tratar mastite. 

Como saber se estou com mastite?



Mastite é um processo inflamatório das mamas, que pode evoluir para uma infecção bacteriana. O que você vai sentir é a mama endurecida, dolorida, quente, além de mal-estar geral e possível febre. Muitos sintomas podem parecer com um simples ingurgitamento (apesar de que esse afeta as duas mamas), mas não importa, sabe por quê? Porque o manejo inicial é o MESMO.

O que fazer quando sentir algum desses sintomas?



Massagear e esvaziar a mama! Não tem segredo, não tem milagre, não tem remédio mágico. PRECISA esvaziar a mama. Eu sei que dói, eu sei que às vezes isso aconteceu porque o bebê não está conseguindo esvaziar bem, não se sabe fazer ordenha manual e não tem bomba em casa. Mas não tem outro jeito. A mastite geralmente é decorrente do leite parado nos ductos, que sofrem pressão e alterando as moléculas ficam mais viscosos, o famoso “leite empedrado”. A massagem ajuda a fluidificar e a ordenha retira o leite da área inflamada, reduzindo os sintomas. Se mesmo com esse manejo os sintomas persistirem por mais de um dia, precisa procurar alguém da medicina que possa avaliar infecção, prescrever medicamento para tratar a mastite. Mas mesmo medicada, não reduz a necessidade de ordenha da mama. 

Se estiver doendo muito, devo suspender a amamentação para tratar a mastite?



Se a dor estiver incomodando, pode-se usar um analgésico, de preferência com antiinflamatório (prescrito!). Isso irá facilitar o esvaziamento da mama, pela ordenha e também pela liberação de ocitocina, que é prejudicada pela dor. NÃO É INDICADA A INTERRUPÇÃO DA AMAMENTAÇÃO para tratar a mastite. Não se deve poupar a mama e oferecer o leite ordenhado de outra forma, se a mãe estiver conseguindo amamentar. Caso não consiga de jeito nenhum, é importante fazer ordenha em frequência como se fosse o bebê mamando. É bem difícil mesmo lidar com mastite, então o melhor é prevenir.

Como prevenir?



Primeiro, descansando e se hidratando. Eu sempre ressalto nas consultas pré-natal que descanso de puérpera não é supérfluo, que é uma necessidade orgânica. Precisa ter, sempre que possível, uma organização da vida para que haja uma disponibilidade mínima de um mês, para dedicação exclusiva à amamentação e disso faz parte o descanso. É necessário esse tempo para que as rotinas sejam ajustadas, para que se ajuste a amamentação, se aprenda a pega correta (que vai facilitar o esvaziamento e prevenir fissuras), se estabeleça a livre demanda. Ideal ter suporte de uma consultora de amamentação (que pode ser particular – como o serviço que eu ofereço ou da própria pediatra, se tiver especialização – ou nos bancos de leite). Tudo isso vai prevenir que o leite fiquei estático nos ductos, causando problemas. E o descanso vai, principalmente, facilitar a liberação de ocitocina, que ajuda o leite a sair. 

ATENÇÃO:


Se permanecer por mais tempo um nódulo endurecido, vermelho e dolorido PODE SER um sinal de abscesso, ou seja, acúmulo de pus na mama, sendo necessária avaliação médica e possível pulsionamento. Apenas em torno de 3% das pessoas com mastite desenvolvem abscesso. No ingurgitamento é possível permanecer uma área endurecida indolor, que não causa maiores problemas. Nos dois casos o leite pode sair bastante viscoso, amarelado, como um leite condensado e isso não é motivo para interromper a amamentação.  


Sempre ressalto a importância da consulta pré-natal de amamentação. É importante saber identificar os sinais de leite parado; conhecer a rotina de amamentação para não ficar muitas horas sem amamentar. Saber manejar as mamas quando o leite está parado, para não evoluir para um ingurgitamento ou mastite. Saber também fazer uma pega correta desde o início para que o bebê consiga retirar o máximo de leite e conhecer os risco de uso de bicos artificiais. Tudo isso é abordado na consulta. 
Se você está gestante, ou conhece alguém que esteja, entre em contato e vamos conversar. 


Referências:
Academy of Breastfeeding Medicine Protocol Committee. ABM Clinical Protocol #4: Mastitis, Revised March 2014. Breastfeed Med. 2014;9(5):239-243
World Health Organization. (‎2000)‎. Mastitis : causes and management. Disponível em: https://www.who.int/maternal_child_adolescent/documents/fch_cah_00_13/en/
Campbell, S. H. Lauwers, J. Mannel R. Spencer, R. Core Curriculum for Interdisciplinary Lactation Care. Jones Barlett. 2019.
Perilo, Tatiana Vargas Castro (org). Tratado do especialista em cuidado materno-infantil com enfoque em amamentação. Belo Horizonte: Mame Bem, 2019.