Bebês são pequenos. Bebês são dorminhocos. Bebês são frágeis. Mas eles não são tão indefesos como parecem. Eles têm uma arma secreta muito poderosa!

Essa arma é indispensável. Alimentação e proteção são conseguidas através dela. Quando nascem, os pequenos são totalmente dependentes dos adultos. Eles ainda não são capazes de andar nem de falar.  Para a criança já nascer independente, teria que nascer não depois de nove meses, mas depois de quase dois anos! E com uma cabeça bem maior, para abrigar um grande cérebro. Seria impossível ter uma barriga gigante que pudesse carregar um bebê grande assim. E nascer então, seria muito difícil.

Então a natureza, sábia que é, fez com que os bebês nascessem menores. E quanto menores, mais dependentes. E quanto mais dependentes, mais precisam de cuidados o tempo inteiro. E todo esse cuidado é muito trabalhoso para os adultos. E é aí que entra a arma secreta dos bebês. Essa arma é a fofura! Os bebês são naturalmente irresistíveis e é dessa forma que nos impelem a protegê-los e amá-los, por mais cansativo e desgastante que isso seja. Você já reparou que nos sentimos tentados a cuidar e dar carinho a bebês, mesmo que eles não sejam da nossa família? Quase todo mundo teria uma enorme dificuldade em ficar imune ao poder da fofura dos bebês.

Um cientista chamado Konrad Lorenz estudou esta estratégia. Lorenz percebeu que a maioria dos bebês tem um conjunto de características em comum, que ele chamou de baby schema. O baby schema é a arma secreta. Pense em algum bebê e tente lembrar o seu rosto. Ele tem olhos grandes, cabeça grande e testa protuberante? O nariz e a boca são pequenos e delicados? As bochechas são tão fofas que dá vontade de beijar? Pernas e braços são pequenos e tão gorduchos que chegam a ter dobrinhas? Se sim, ele tem um alto baby schema, e não há quem resista!

Alguns cientistas fizeram até experiências para provar se o baby schema funciona mesmo. Numa dessas experiências, na Universidade da Pennsylvania¹, os cientistas apresentaram várias fotos de bebês a adultos. As fotos foram manipuladas em computador. Algumas tinham baixo baby schema e outras, alto baby schema. O resultado foi que as fotos com alto baby schema foram escolhidas como mais fofas. E os adultos se sentiam mais tentados a cuidar.

Em outra experiência, os mesmos cientistas observavam o que acontecia no cérebro dos adultos, através de ressonância magnética, enquanto eles viam as fotos modificadas dos bebês. Os pesquisadores observaram que as fotos de alto baby schema alteravam áreas de recompensa e motivação do cérebro. Eles acreditam que é através deste mecanismo que a arma secreta dos bebês funciona. O baby schema promove cuidado humano, independente do parentesco.

É muito difícil ficar imune. O baby schema nos seduz e nos impele a proteger os bebês. É mesmo uma arma. Mas esse é o tipo de arma da qual ninguém precisa fugir. Podemos nos render e prestar-lhes todos os cuidados que exigirem. Estaremos tão felizes quanto eles.

Você sabia?

O Mickey Mouse original era muito diferente do ratinho simpático que conhecemos hoje. No início ele era muito danado, e até um pouco malvado.

Com o passar do tempo, não só a sua personalidade foi mudando, mas o desenho também foi bastante alterado.

Um cientista chamado Stephen Jay Gould se deu ao trabalho de analisar a transformação pela qual passou o Mickey Mouse². Adivinha o que ele encontrou?

Apesar de continuar com a mesma idade que tinha no início, a forma do personagem foi ficando mais infantil. E essa modificação foi tomando a forma do baby schema!

O olho original se transformou na pupila do atual, maior. O comprimento do focinho não foi alterado, mas diminuiu a projeção. O formato de círculo da cabeça é uma marca registrada. Ao invés de alterar o tamanho da cabeça, a orelha do Mickey foi movida para trás, aumentando a distância entre o nariz e as orelhas. Isso deu a ele uma testa arredondada. Seus braços e pernas encurtaram. Para pernas mais curtas e gorduchas, eles baixaram a linha das calças.

Até o Mickey descobriu o quanto é poderosa essa arma!

1 – Glocker ML, Langleben DD, Ruparel K, Loughead JW, Gur RC, et al. (2009). Baby schema in infant faces induces cuteness perception and motivation for caretaking in adults. Ethology 115: 257–263. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22267884.

2 – Gould, Stephen J. A BIOLOGICAL HOMAGE TO MICKEY MOUSE. http://todd.jackman.villanova.edu/humanevol/homagetomickey.pdf